O evento foi realizado pela Escola Judicial do TRT11 e faz parte do projeto Escola Itinerante
Mesa de abertura do Ciclo de Palestras ocorrido em Tabatinga/AMNa última sexta e sábado (04 e 05/08), em Tabatinga/AM, a Escola Judicial do Tribunal Regional do Trabalho da 11ª Região (Ejud11), realizou o I Ciclo de Palestras com o tema “Os novos paradigmas na relação trabalhista: rumos e desafios". O evento, que teve parceria do TRT da 11ª Região (TRT11) e da Escola Nacional de Formação e Aperfeiçoamento de Magistrados do Trabalho (Enamat), ocorreu no Auditório Amazônia, do Comando de Fronteira do Alto Solimões.
A mesa de abertura do evento foi composta pelo diretor da Ejud11, desembargador David Alves de Mello Junior; vice-presidente do TRT11, desembargador Jorge Álvaro Marques Guedes; corregedor e ouvidor do TRT11, desembargador Audaliphal Hildebrando da Silva; a desembargadora do trabalho Francisca Rita Alencar Albuquerque, uma das palestrantes; a procuradora-chefe do MPT/PRT11, Fabíola Bessa Salmito Lima; e do Coronel Júlio César Belaguarda Nagy de Oliveira, Comandante do 8° Batalhão de Infantaria de Selva.
Palestras de sexta-feira
A primeira palestra, de tema “A Terminação Motivada dos Contratos na Contemporaneidade Brasileira”, foi proferida pela desembargadora do TRT11, Francisca Rita Alencar Albuquerque. Em seu discurso, a desembargadora fez uma análise das mudanças na sociedade moderna, sobretudo as que produziram a terceira Revolução Industrial, quando descortinou-se a biotecnologia, a engenharia genética, a energia fotovoltaica, a holografia, a fibra ótica, o raio laser, os circuitos integrados, os robôs, os equipamentos automatizados, dentre outros, trazendo em seu bojo a crença de que essas tecnologias podem resolver os graves problemas sociais enfrentados pela humanidade, como doença, fome e miséria. Entretanto, destacou a palestrante, “o que estamos vivendo neste século é o aumento das desigualdades sociais e a proliferação do número de desempregados”.
Para ela, no campo das relações trabalhistas o fenômeno deixa sua marca indelével: o conceito de subordinação jurídica que o empregado tem para com o patrão, as noções de hierarquia local e jornada de trabalho foram repensados, reformulados para melhor adaptação. “E mesmo os fatos que motivam a ruptura do contrato por justa causa precisam de uma nova orientação hermenêutica, quem sabe até de uma nova mudança legal”, alertou.
Após explicitar alguns atos do Artigo 482 da CLT, a desembargadora Francisca Rita concluiu a palestra afirmando que “é inequívoco, em nossos dias, a concepção de que a justa causa enfrenta mudança de paradigma, o surgimento de outras formas de prestação de serviço, as mudanças de conceito de local, da jornada de trabalho, a inserção de outras faltas, como o assédio moral, o ilícito cibernético, tudo isso leva-nos a concluir que nos primeiros anos deste novo milênio a justa causa continua em processo de evolução e mudança, como de resto todo o direito”, finalizou a desembargadora.
A segunda palestra, com o tema "O “Moderno” Trabalho Precário e o “Inferno Astral” dos Direitos Humanos no Brasil", foi proferida pelo juiz titular da Vara de Trabalho de Tabatinga, Gerfran Carneiro Moreira. Ele fundamentou suas reflexões na premissa de que a Reforma Trabalhista foi realizada com o objetivo de simplificar o aspecto da extinção do contrato de trabalho e melhorar a gestão que o empregador pode ter de seu pessoal. Outro aspecto importante levantado pelo palestrante foi a de que a reforma recém aprovada não contempla uma parcela importante de nossa sociedade: as pessoas que não tem trabalho formal.
Ao final do primeiro dia do evento foram sorteados livros para os presentes, em especial aos universitários.
Segundo dia do evento
O segundo dia do evento foi contemplado com três palestras: a do Comandante do 8º Batalhão de Infantaria de Selva, Coronel Júlio César Balaguarda Nacy de Oliveira, falando sobre a “Atuação do Exército Brasileiro na Faixa de Fronteira e sua contribuição para o desenvolvimento e a defesa dos interesses Nacionais na Amazônia”; a da advogada especialista em direito Previdenciário, Iza Amélia de Castro Albuquerque, com o tema “Reforma Previdenciária”; e a do Ministro do Tribunal Superior do Traballho (TST), Augusto César Leite de Carvalho, com o tema “Direito do Trabalho sob a Perspectiva dos Direitos Humanos”.
Na abertura da palestra “Reforma Previdenciária”, a advogada Iza Amélia esclareceu que é preciso compreender o que é a previdência, para poder decidir o que reformar. Para a palestrante, o Brasil precisa fazer uma reforma estrutural. Ao explicitar a estrutura previdenciária brasileira, ela afirmou que “não temos gerenciamento previdenciário em nosso país e na reforma ninguém está falando em gerenciamento, pelo contrário, há um arrocho total do serviço público federal”.
Ao esclarecer sobre a Seguridade Social e entrar na discussão se há déficit ou não da previdência, a palestrante defende a tese de que não há déficit da previdência. “Nós temos um grande sistema de proteção, proteção máxima, copiada de países desenvolvidos. A nossa realidade social não é essa e este é o grande problema da ineficácia da norma jurídica, porque as nossas normas não nascem da verdadeira fonte de direito, que é a sociedade. Daí corremos atrás, ou seja, tentamos adequar a realidade social à lei. Então resta o quê? A ineficácia da norma”, destacou. Na conclusão de sua conferência, Iza Amélia esclareceu sobre os principais pontos de reforma aprovada pela CCJ da Câmara, em especial a transição.
Ministro fala sobre Direito do Trabalho
Ministro do TST, Augusto César Leite de Carvalho, falou sobre “Direito do Trabalho sob a Perspectiva dos Direitos Humanos”Encerrando o evento da Ejud11, o ministro do TST Augusto César Leite de Carvalho, proferiu a palestra “Direito do Trabalho sob a Perspectiva dos Direitos Humanos”. No início da sua fala, o Ministro enfatizou sobre o porquê do título da palestra. Para ele há um hiato, uma defasagem, em todas as articulações que se desenvolve hoje a respeito da reforma de direitos sociais, como se o direito à ordem jurídica tivesse estacionado há 70 ou 80 anos, no tempo em que os Direitos Humanos não se concebiam positivados propriamente, no tempo em que havia a prevalência do direito com a dimensão mais contratual, mais econômica, e não levava em consideração a nossa dimensão existencial, sobretudo a dimensão coexistencial, levando a uma monetização do direito. Segundo o Ministro do TST, isso está muito presente na tradição do direito do trabalho. Se o trabalhador presta serviço em condições que vão fazê-lo adoecer ou morrer precocemente, parece que tudo se resolve com pagamento adicional de insalubridade, como se o valor a ser considerado fosse apenas o retorno financeiro pelo preço que está pagando pela sua saúde, pela sua integridade física e sua vida.
Referindo-se aos Direitos Humanos, o ministro destacou que eles existem porque basicamente temos três valores fundamentais que foram considerados gradualmente pela humanidade, valores que precisariam estar presentes em qualquer ordenamento jurídico: direito à dignidade, direito à igualdade, direito de liberdade. Esses três valores fundamentais estão presentes em qualquer catálogo de direitos humanos e fazem com que tenhamos, na ordem jurídica, prosseguiu o ministro, uma outra perspectiva que não a de simplesmente sermos indenizados todas as vezes que somos lesados em nossos direitos.
No que diz respeito ao ambiente do trabalho, o ministro destacou que não é um ambiente saudável, nós temos uma quantidade de acidente de trabalho no Brasil com índices alarmantes, a cada ano são 700 mil acidentes, fora aqueles que não são notificados. Nós temos ainda a exposição à sílica, na indústria da construção civil, nós temos o trabalho infantil, com estatísticas preocupantes, temos ainda o trabalho análogo ao de escravo. Segundo a OIT somos o 4º colocado em acidente de trabalho por morte, o Brasil convive ainda com discriminação racial de gênero, ao assédio moral e sexual no ambiente de trabalho. Referindo à terceirização o palestrante ressaltou que no Brasil o fenômeno ocorre quase na totalidade em que há trabalho análogo ao do escravo, em que há acidente de trabalho. Essa associação diz muito sobre a precarização do trabalho. Para ele é falsa a premissa de que a Reforma Trabalhista é importante para prover o problema da produtividade do trabalhador brasileiro, isto se resolve com investimento, com treinamento, com automação, e não com redução de direitos dos empregados.
Para o ministro é possível pensarmos e idealizarmos uma reforma trabalhista que diga ao trabalhador que ele é gente, que ele é cidadão, que ele tem os mesmos direitos de qualquer outra pessoa em qualquer ambiente. “Não foi rigorosamente isto que parece que aconteceu com essa reforma”, concluiu.
Escola itinerante
O I Ciclo de Palestras é parte integrante do projeto “Escola Itinerante” da Ejud11, cujo objetivo é a disseminação do conhecimento e o fomento de debates sobre matérias contemporâneas relativas ao Direito Material e Processual do Trabalho no interior do Estado do Amazonas e em Boa Vista (RR).
Além dos desembargadores já citados, também estavam presentes no referido evento os magistrados o TRT11: Alberto de Carvalho Asensi; Sandra Di Maulo; Jeanne Karla Ribeiro e Bezerra; Eliane Leite Correa; Antonio Carlos Duarte de Figueredo Campos; Igo Zany Nunes Corrêa; além de assessores e servidores do Regional, da Rádio Nacional, do Exército e das Prefeituras de Tabatinga/AM e Benjamin Constant/AM.
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ASCOM/TRT11
Fonte e fotos: MPT AM/RR
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